segunda-feira, 30 de novembro de 2009

NÃO SEI ODIAR

não sei odiar
apenas sei que se faz
adiar o gostar
enquanto basta
o agora
para com todo o amor
amar

domingo, 15 de novembro de 2009

PREGUIÇA DAS GENTES

entre copos e corpos
meus olhos cruzam com os de ninguém
e enquanto lacrimejam sono
a boca boceja lágrimas de preguiça

me encontro com a parede

que não me teme
que não me quer
que não me sente
mas apenas está
sem se mover

a boa ouvinte da noite

sábado, 14 de novembro de 2009

EROS

[vim te ver
e viver
essa arte do crescer
as volumosas
vontades do
ser...]

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

VEM TÔ

oi vento

aqui te esperando
para me encher de ar
e com um sopro
acalmar o (m)eu lar

SOL

deixe que aquela brilhante luz da paz
te diga a hora que se faz

VENTO

o vento que sopra
seus infinitos sussurros
particulares à cada qual

que, por favor, os enlace com muito amor
pois da brisa se constrói
algo de muito valor

TÁRDENDO

saí!
vou ali dar uma volta,
até que o retorno da ida,
já não tenha mais ferida.

ferido, querido...
todos somos!
afinal, nossa pele se renova
e do sangue e da coceira,
o coração também cassoa.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

DESISTA

e quem disse que tudo estava perdido
não encontrou a perdição em se perder
pois aquele que só busca o ganhar
não sabe encarar a beleza no fracassar

desista
ainda há tempo

TREPADA

mas que putos
e vadias
se entregando assim
em uma noite de verão

onde todos anseiam por diversão
e o calor do sol
não compensa o calor do chão

compartilhado entre dois seres
cheios de tesão

GONZAGA

a parte gozada do gozo,
é que enquanto se goza,
os dois gonzaguinha.

DÚVIDA

sentada calada
observo atenta
o universo das tuas palavras
que exalam amor e miradas
molhadas e desejadas

todo contato é diferente
e nem todo diferente é ardente

soa tão fácil, tão simples
estamos aprendendo a ser amigos
coração e mente
quem mente e quem sente?

PURI & FICA

é no choro que limpo minha alma
a água que escorre também sacia a sede e acalma a fala
o coração que a princípio dilata ao infinito
e se expande ao desconhecido
retorna tranquilo, leve, puro, limpo

humana, demasiada humana
meu espírito livre não sabe aonde recorrer
apenas corre
sem, felizmente
saber o porquê

a dúvida permanece e faz crescer o curioso
que embeleza a vida
muitas vezes custoso
aprenda que enxergar o belo na dor
é algo muito valioso

Eros, sempre Eros.

Eu quis.
Eu quis muito.
Eu que quis
o querer do quem
que queria pouco...
Quis que eu esquecesse
essa mania de querer!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

DO DESEJO



de HILDA HILST

e por que haverias de querer minha alma
na tua cama?
disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
obscenas, porque era assim que gostávamos.
mas não menti gozo prazer lascívia
nem omiti que a alma está além, buscando
aquele outro. e te repito: por que haverias
de querer minha alma na tua cama?
jubila-te da memória de coitos e de acertos.
ou tenta-me de novo. obriga-me.
(do desejo - 1992)

colada à tua boca a minha desordem.
o meu vasto querer.
o incompossível se fazendo ordem.
colada à tua boca, mas descomedida
árdua
construtor de ilusões examino-te sôfrega
como se fosses morrer colado à minha boca.
como se fosse nascer
e tu fosses o dia magnânimo
eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.
(do desejo - 1992)

que canto há de cantar o que perdura?
a sombra, o sonho, o labirinto, o caos
a vertigem de ser, a asa, o grito.
que mitos, meu amor, entre os lençóis:
o que tu pensas gozo é tão finito
e o que pensas amor é muito mais.
como cobrir-te de pássaros e plumas
e ao mesmo tempo te dizer adeus
porque imperfeito és carne e perecível

e o que eu desejo é luz e imaterial.

que canto há de cantar o indefinível?
o toque sem tocar, o olhar sem ver
a alma, amor, entrelaçada dos indescritíveis.
como te amar, sem nunca merecer?
(da noite - 1992)